terça-feira, 2 de junho de 2009

Tabacaria


"(...) Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu ,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo.
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando.
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
0 mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.(...)"

Trecho retirado do poema "Tabacaria"

Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)

sábado, 30 de maio de 2009

Vocábulo: pecado



Pecado

Acepções
■ substantivo masculino
1 violação de um preceito religioso
2 Derivação: por extensão de sentido.
desobediência a qualquer norma ou preceito; falta, erro.
3 ação má; crueldade, perversidade
4 o que merece ser lastimado; pena, tristeza


Hoje muito cedo, estava dirigindo e a palavra pecado me veio à cabeça...
Pecado... Mas o que, de fato, significa pecado?
Se tomasse por base o real significado da palavra, será, realmente, que já teria cometido algum?

Num primeiro momento, confesso apenas enxerguei de forma restrita: ora, pecado nada mais é do que um conceito determinado por uma religião. Bem, se assim fosse, acredito não ter cometido nenhum.
Calma, não estou me colocando como a pessoa santificada... Não... Longe disso... Falo em não ter cometido algum, pois já que pecado significa violação a um preceito religioso, e, pelo menos por enquanto, não coaduno com nenhum deles, logo, não cometi pecado, correto?

Hum... Tava simples demais, fácil demais, direto demais.
Então porque usar tanto a palavra pecado?
Remeti-me ao “pai dos burros”*.

Para meu azar, ou sorte, quem sabe – isso vai depender de qual perspectiva você avalie um modo de viver – descobri já ter cometido não apenas um, mas vários pecados. Afinal, quem nunca descumpriu qualquer norma ou preceito? Quem nunca cometeu uma falta ou um erro? Quem nunca realizou uma ação cruel? Ou perversa? Quem nunca esteve numa situação digna de pena? Ou tristeza?
Você nunca?
Bem... Fico feliz em dizer que eu já cometi um pecado!

Muitas vezes uso as palavras sem mesmo pensar no que elas realmente significam.
Acho que são raras as palavras em nossa Língua a possuírem significado único.
Passei a pensar repetidamente em diversas palavras já utilizadas de forma equivocada ou inapropriada. Que desperdício? Falta de inteligência? Talvez... Mas ai teríamos que descobrir o significado destas... Mas fica para outra oportunidade.


*Para terminar esta postagem recorri ao dicionário por algumas vezes.
Só espero não se tornar um vício. Ainda acredito que nenhum vício seja bom.